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7 de agosto de 2016

Surgimento da ASSOCIAÇÃO MUNDIAL VAISNAVA



Escrito por Srila Bhaktivedanta Puri Maharaj (discípulo de Srila Bhati Promode Puri Goswami Maharaj, presidente da Associação Mundial Vaisnava e Acharya da Sri Gopinath Gaudiya Math)

Onze anos depois do desaparecimento de Mahaprabhu, seis estrelas apareceram em Sri-Vraja-mandala (Vrindavan) e se ocuparam em estabelecer o serviço de criar uma associação vaisnava para representar os ensinamentos de Sri Mahaprabhu. Eles foram conhecidos como os Goswamis de Vrindavana.  Além deles, muitos outros mahatmas (grandes almas) encabeçados por Bhugarba Gosvami, Srila Lokanatha Gosvami e Srila Kasisvara Gosvami contribuíram. Sessenta e quatro associados de Gourasundara e doze associados de Sri Nityananda Prabhu incrementarem a beleza dessa associação.
  A palavra Goswami nos remota a uma pessoa que tem domínio completo dos  seus sentidos, ou literalmente, aquele que é “senhor dos sentidos.” Eles foram sadhakas (praticantes) perfeitos e podemos dizer que são os arquitetos de nossa sampradaya (família, ramo espiritual) porque: estabeleceram através de seus livros, das descobertas dos locais sagrados dos passatempos de Radha Krishna e da construção de templos e instalação das principais Deidades de nossa linhagem. Os escritos serviram de referência para os Acaryas vaisnavas que vieram depois deles assim como seus ensinamentos sobre os conceitos de sambandha (relações), abhideya (procedimento) e  prayojana (objetivo). Todo conhecimento védico está  contido nesses três seguimentos:
veda-sastre kahe sambandha abhideya e prayojana
Krsna Krsna-bhakti prema tina maha-dhana

“O conhecimento védico está subdividido em três  partes conhecidas como sambandha, abhideya e prayojana, esses três grandes tesouros são Krishna, devoção por Krishna e amor por Krishna”.

Nesse contexto, o conhecimento estabele-se de forma consistente e tendo em vista que muitas missões vaisnavas apareceriam, Srila Rupa Goswami Pada pediu a Srila Jiva Goswami Pada que fundasse a Visva Vaisnava Raj Sabha para que todos os vaisnavas pudessem compartilhar os seus conhecimentos e estabelecer relações amistosas entre si. Uma vez que o vaisnava, independente de qual missão pertença, banha-se nas águas sagradas do mesmo rio Yamuna e do Ganges, leem as mesmas escrituras, cantam o Santo Nome em seus rosários de Tulasi, têm fé e honram mahaprasadam.
Sendo assim, eles têm muito em comum e podem se beneficiar enormemente quando se encontram em uma assembléia com o espírito imbuído de união na diversidade.  Srila Jiva Goswami Prabhu é considerado o diretor primordial da sabha (assembléia) promovendo os ensinamentos de Sri Rupa-Sanatana como Bhagavat-sandarbha, ou Sat-sandarbha (dois livros de sua autoria).
Por tomar refúgio em Srila Raghunatha (um dos Goswamis de Vrindavan mencionados anteriormente), Sripada Krsnadasa Kaviraja Goswami Prabhu se tornou um dos diretores da Sri-Visva-Vaisnava-raja Sabha (Associação Mundial Vaisnava). E logo depois, Sri Narottama Thakur decorou a coroa da Visva-Vaisnava-raja-sabha.
Seguido dele, Srila Visvanata Cakravarti Thakur espalhou sua refulgência sobre. Depois que essas grandes almas partiram, e quanto mais o tempo passava, mais o vaisnavismo foi envolvido por uma densa neblina e os vaisnavas caíram no descrédito de todos, sem nenhuma possibilidade de serem estabelecidos em sua posição sublime.
Em 1855, uma brilhante estrela do firmamento vaisnava surgiu para restabelecer a Sri-Visva-Vaisnava-raja-sabha (Associação Mundial Vaisnava). A partir desse ponto, a corrente do vaisnavismo começou a jorrar novamente com toda força.
No dia 5 de Fevereiro do ano de 1919, no avirbhava-tithi (dia de aparecimento) de Sri Visnupriya devi, no centro de Ultadingi Road,  Srila Sarasvati Thakur Prabhupada reestabeleceu a Sri Visva-Vaisnava-raja Sabha (Associação Mundial Vaisnava).
Convenções da assembléia vaisnava eram feitas a cada ano em Mayapur-dham depois do Navadvipa-dhama Parikrama tendo como convidados de honra o rei de Tripura. Mas a principal iluminação desses encontros foram as palavras de Srila Sarasvati Thakura Prabhupada, outros sannyasis e líderes dos devotos. Outra característica desses encontros foi a distribuição de títulos para os devotos que os mereciam, junto com glorificações poéticas escritas em sânscrito  por Srila Sarasvati Thakura e outros. Esses louvores eram apresentadas aos devotos de maneira individualizada na forma de asirvada-patras (elogios em sânscrito).
Depois do aparecimento da Gaudiya Matha (missão fundada por Bhaktisiddhanta), Associação Mundial Vaisnava continuou como uma organização colateral, consistindo principalmente de membros da Gaudiya Matha, mas também com devotos simpatizantes e tendo como presidente a Srila Sarasvati Thakura Prabhupada.
O nome “Sri Gaudiya Math”, dado em 1920 por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada para o centro de Ultadingi Road, foi mantido quando houve a mudança para o Bag-Bazar em Calcutá. Aproximadamente em 1922 com a expansão do movimento tornou-se mais conhecido como Gaudya Matha, com cada nova assembleia também sendo denominada como Gaudiya Math, ainda que para os assuntos  legais oficialmente o nome fosse Visva Vaisnava Raj Sabha (Associação Mundial Vaisnava). Papéis formais e legais, boletins, endereços por exemplo eram emitidos pela Associação Mundial Vaisnavas. Mas em publicações e encontros públicos foi denominado como Gaudiya Matha, um nome consideravelmente mais fácil e curto para ser relembrado e pronunciado do que Visva-Vaisnava-raja Sabha.
Depois da partida de Srila Bhaktisidhanta Sarsvati Thakura Prabhupada, muitos dos seus discípulos estabeleceram novas missões e proeminentes Acaryas surgiram para derramar o prema dharma (dever do amor divino) às almas condicionadas.
Mas foi através de Srila A.C. Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada que o vaisnavismo ganhou proporções gigantescas em todo mundo. Depois que ele fundou a ISKCON, muitas outras missões surgiram dentro dessa missão. O propósito de unir os vaisnavas pairava no ar, então, alguns vaisnavas se encontram em Vrindavana (Índia) com Srila B. A. Paramadvaiti Maharaj, Srila BV. Tripurari Maharaj e Srila Bhakti Gourava Narasingha Maharaj para discutir a ideia de formar uma associação mundial vaisnava. A ideia foi aceita com muito entusiasmo por todos, mas devido a falta de tempo e clareza de propósitos, essa tentativa de reviver a assembléia dos vaisnavas foi postergada.
Em 1993, Srila B. A. Paramadvaiti Maharaj se aproximou do vaisnava sênior mais exaltado do momento, Sua Divina Graça Srila Bhakti Pramode Puri Goswami Maharaj pedindo que aceitasse ser presidente da Visva-Vaisnava-raja Sabha (Associação Mundial Vaisnava). Guru Maharaja respondeu que era muito idoso para assumir um cargo de tanta responsabilidade, e que com 97 anos de idade seria incapaz de conciliar o seu serviço de Acarya da Gopinatha Gaudiya Matha, sendo assim, ele declinou o convite.
Mas Srila B. A. Paramadvaiti insistiu e dizendo-lhe que ele não teria que fazer absolutamente nada, somente tinha que aceitar o cargo (já que por sua santidade tudo se resolveria facilmente). E passou-lhe todos os regulamentos previamente elaborados por ele ( Srila B. A. Paramadvaiti ).
O mesmo relembra: “Pensei que Srila Puri Maharaj somente daria uma olhada de forma superficial e depois me entregaria o documento, mas não foi isso o que aconteceu. Ele examinou detalhadamente página por página e depois de muito tempo, disse que iria pensar no assunto. Então, depois de alguns dias eu voltei a seu math e perguntei-lhe o que havia decidido. Ele respondeu: 'Swami Maharaj (refereindo-se a Srila A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupad) construiu uma ponte entre a Índia e Ocidente, levando a consciência de Krsna para lá, Sridhara Maharaj pregou para os mundos sutis e eu ainda não fiz nada. Por isso vou aceitar o que você me propõe.”
Foi através dessa conexão que Srila B. A. Paramadvaiti Maharaj conseguiu estabelecer uma ligação íntima com Guru Maharaj. Ele mesmo conta que através desse serviço que tinha como secretário da Associação Mundial Vaisnava podia entrar a qualquer momento no quarto de Srila Gurumaharaj, podia conversar sem nenhum impedimento, conseguindo oportunidades para estreitar os vínculos que os uniram pela eternidade, o considerando como seu Siksa Guru - estando intimamente ligado com ele até o final dos seus passatempos aqui neste mundo fenomênico.
Nos momentos finais dos passatempos manifestos de Srila Gurumaharaj, Srila B. A. Paramadvaiti Maharaj estava visitando a Srila Gurumaraj com alguns dos de seus discípulos da missão Vrinda. Em um momento, um devoto perguntou-lhe “Quando seu Guru partiu, você se refugiou em Srila Sridhara Maharaj. Quando Srila Sridhara Maharaj foi embora, você se refugiou em Srila Puri Maharaj. E agora quando Puri Maharaj partir, em quem você irá se refugiar?” A resposta foi curta e categórica: “Irei me refugiar em Sri Caitanya Mahaprabhu”.
No dia 14 de Novembro de I994 foi celebrado um encontro em Vrindavana no Modi Bhavan - compareceram 120 pessoas e 28 Acaryas e muitos Sannyasis qualificados como membros fundadores da Associação Mundial Vaisnava.
Nos três dias seguintes, um comitê de voluntários analisou todas as propostas, as quais foram apresentadas pelo secretário (Srila B. A. Paramadvaiti Maharaj) e aceitas com unanimidade.
No dia 18 de Novembro de 1994 o resultado foi apresentado em uma assembléia geral junto com os estatutos da Associação Mundial Vaisnava. O comitê assinou a respectiva autorização legal e o registro em Agra foi consumado.


13 de dezembro de 2015

WVA Brasil - Qual a contribuição da Associação Mundial Vaisnava? // Entrevista com Baladeva das

Baladeva das Brahmacary (da Keshavji Gaudiya Math em Belo Horizonte) conta sobre a principal contribuição da Associação Mundial Vaisnava (WVA): a compreensão de que todos somos parte da família de Sri Caitanya Mahaprabhu. E que todos os discípulos de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur Prabhupad fazem parte dessa corrente de néctar.

Essa mentalidade não sectária e inclusiva é a essência da Associação Mundial Vaisnava, que busca a união na diversidade, fortalecendo os laços entre as famílias espirituais que levam a bandeira de Sri Cantanya Mahaprabhu a todo o planeta.




Para saber mais:
em inglês // vina.cc

Jay Sri Guru e Gouranga!

2 de dezembro de 2015

Estréia em 2016 nos cinemas o filme sobre a trajetória de vida de Sripad Bhaktivedanta Swami



Reporte por Bruno Conde

Estreia em 2016 nos cinemas o filme sobre a trajetória de vida de Sripad Bhaktivedanta Swami, mais conhecido mundialmente como Srila Prabhupada.

Uma extraordinária pessoa que dedicou sua vida a ensinar o mundo sobre a consciência de Krishna, a mensagem de sabedoria espiritual mais nobre da Índia antiga.

Srila Prabhupada escreveu mais de quarenta volumes de tradução e comentários sobre tais clássicos como o Srimad Bhagavatam, o Caitanya Caritamrita e o Bhagavad-gita. Ele escreveu não unicamente como um erudito, mas como um praticante perfeito. Ele ensinou não apenas através de seus escritos, mas também por meio de seu exemplo de vida.

Ao longo de sua obra, a intenção de Srila Prabhupada foi transmitir o sentido natural das escrituras sem se desviar com interpretações especuladoras, propiciando-nos uma versão autêntica das conclusões védicas sobre tópicos tão importantes como o propósito da vida humana, a natureza da alma, a consciência e Deus.

Tecnologia Aeroespacial e Poderes Sônico-Psíquicos: Uma Comparação entre a Literatura Védica e os Estudos Atuais


19 I (artigo - ufologia) Tecnologia Aeroespacial e Poderes Sônico-Psíquicos (5300) (ta)

FONTE: http://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/tecnologia-aeroespacial-e-poderes-sonico-psiquicos-uma-comparacao-entre-a-literatura-vedica-e-os-estudos-atuais/


Por Devamrita Swami

Descrições na literatura védica de naves com poderes extraordinários e armas bélicas ativadas por som ou com efeito diretamente sobre a mente muitas vezes relegam as obras da Índia antiga ao status de “mitologia”. Contudo, e se as descrições ufológicas modernas, bem como os desenvolvimentos de armas psíquicas na guerra fria, forem consistentes com as narrativas védicas? Isso poderia começar a promover as escrituras atribuídas a Vyasadeva à posição de descrições literais entre os estudiosos mais céticos da atualidade?

Gostemos ou não, os tratados cosmológicos védicos estão cheios de referências a máquinas voadoras e armas de grande poderio. Não há como ignorar fatos claros. Porém, a maior parte dos indólogos de maior destaque fez exatamente isto: ignoraram. Como você negligencia ou trivializa essas inúmeras descrições? É impossível escapar delas, a menos que você já tenha sido previamente programado para rejeitá-las. Você tem que descartá-las, pois a academia mainstream não considerará que humanos na antiguidade remota pudessem ser avançados – para não dizer peritos – em uma tecnologia muito mais sutil do que as tecnologias grosseiras das quais nos orgulhamos hoje. Lembremo-nos: até mesmo um conceito tão simples como vida inteligente em outros planetas arregala olhos no meio acadêmico.
A tecnologia védica não lembra nosso mundo de porcas e parafusos, ou mesmo nossos microchips. Temos que rotular a tecnologia védica de “tecnologia de base psíquica”. O poder místico, especialmente manifesto como vibração sônica, tem um papel de destaque. O som correto vibrado como mantra pode disparar armas terríveis, matar diretamente, invocar seres de outros reinos ou até mesmo criar aeronaves exóticas.

13 de janeiro de 2015

Krishna existiu; os livros escolares estão errados

escrito por RAJ NAMBISAN / Sexta-feira, 20 de junho de 2014

Krishna existiu? Certamente, diz Dr. Manish Pandir, um doutor de medicina nuclear que leciona na Inglaterra, proferindo evidências astronômicas, arqueológicas, lingüísticas e orais para provar seu ponto. “Eu pensava em Krishna como uma parte do mito Hindu e da mitologia. Imagine minha surpresa quando eu encontrei o Dr. Narhari Achar (professor de física na Universidade de Memphis, Tennessee, nos EUA) e sua pesquisa em 2004 e 2005. Ele havia encontrado a data da Guerra do Mahabharata usando astronomia. Eu imediatamente tentei corroborar com sua pesquisa usando o software Planetarium e cheguei às mesmas conclusões [que ele],” disse Pandit. Isto significava, ele diz, que o que é ensinado nas escolas sobre história da Índia está incorreto? A Grande Guerra entre os Pandavas e os Kauravas ocorreu em 3067 a.C., diz Pandit, que obteve seu título de MBBS pela BJ Medical College. Em seu primeiro documentário, “Krishna: história ou mito?”, os cálculos de Pandit dizem que Krishna nasceu em 3112 a.C., de modo que teria a idade de 54-55 anos no momento da batalha de Kurukshetra. Pandit é também um renomado astrólogo, tendo escrito diversos livros sobre o assunto, e diz ter previsto que Sonia Gandhi rejeitaria o primeiro ministério, no exato momento em que Shankaracharya Jayendra Saraswati seria libertado sob fiança e também a guerra de Kargil. Pandit, como o sutradhar do documentário “Krishna: história ou mito?”, utiliza quatro pilares – arqueologia, lingüística, o que ele denomina a tradição viva da Índia e astronomia para chegar ao veredicto circunstancial de que Krishna foi de fato um ser vivente, pois o Mahabharata e a batalha de Kurukshetra de fato aconteceram, e, uma vez que Krishna foi o pivô desse Armageddon, é tudo verdade.

Você é um especialista em medicina nuclear. O que lhe convenceu a fazer um filme sobre a história/mito de Krishna? Você acha que existem muitas dúvidas? Trata-se de uma mensagem político-religiosa, ou uma puramente religiosa?

Nós sempre somos ensinados que Krishna é uma parte do mito Hindu e da mitologia. E isto é exatamente o que eu também pensava. Mas imagine a minha surpresa quando eu encontrei o Dr. Narhari Achar (professor de física na Universidade de Memphis, Tennessee, nos EUA) e sua pesquisa em 2004 e 2005. Ele havia encontrado a data da Guerra de Mahabharata usando astronomia.
Eu imediatamente tentei corroborar com sua pesquisa usando o regular software Planetarium e cheguei às mesmas conclusões. Isto significava que o que é ensinado nas escolas sobre história da Índia está incorreto. Eu também comecei a refletir sobre por que isto estaria incorreto. Atribuo parcela de culpa a uma mistura de necessidade pós-colonial de conformar com ideias ocidentais sobre a civilização Hindu e uma inabilidade de firmar opinião frente a algumas estranhas ideias ocidentais. Além disso, qualquer tentativa de um olhar mais imparcial sobre a história da Índia é rejeitada.
            Decidi que não poderia mais tolerar este nonsense, e a fazer filmes mostrando para os indianos educados a sua real herança. A caneta é mais poderosa que a espada, é uma frase antiga, mas eu cheguei a uma nova: filme é a nova caneta. Quaisquer ideias que eu tenha irão receber muita disseminação através deste meio.
            Eu quis apresentar a verdadeira ideia da história da Índia sem interferências da percepção, o que era verdadeiramente científico, e não alguma hipótese coberta por percepções e preconceitos.

Por que não um documentário sobre Rama, que é mais controverso na Índia hoje? Uma prova de sua existência certamente seria mais do que bem-vinda nos dias de hoje.

            Um documentário sobre Rama está por vir no futuro. Mas o motivo imediato pelo qual eu deferi este projeto é o imenso custo que envolveria. Enquanto pesquisas sobre Krishna e Mahabharata estavam presentes e prontas para início.
            Além disso, Rama, de acordo com o pensamento Hindu, existiu num distante passado de Treta Yuga, onde a ciência tem dificuldades em adentrar.

Existe um ponto controverso em seu documentário onde um monge Iskcon alude a Krishna como sendo pai de Jesus. Como você afirma seu ponto, uma vez que existe um intervalo de 3000 anos entre os dois gigantes espirituais?

            Krishna é o pai espiritual de Jesus? Este é o questionamento de quem treina para se tornar um padre católico, e que agora adora Krishna. A resposta vem num campo de comparações entre religião e teologia.
            As escrituras bíblicas qualificam Jesus como o filho de Deus. A maioria dos indianos não têm problemas aceitando isto, com os Hindus como um povo secular. Entretanto, a questão que então aparece é, se Jesus é o filho, então quem é o pai ou Deus em si?
            Agora, as escrituras bíblicas não dão uma resposta, exceto ao dizer que o Pai é todo poderoso e omnipresente. Agora, é claro, nós sabemos que Jesus não diz que ele é omnipresente e omnipotente.
            Nenhuma escritura pode viver como uma ilha, sozinha, e o Srimad Bhagavatam e outras escrituras como o Brahma Samhita, todas clamam Krishna como um ser todo poderoso e omnipresente.
            Então, se nós usamos estas palavras de Bhagavatam, não pode haver outra verdade, o que significa que Krishna é o pai de todas as criaturas viventes. Porém, não significa que Jesus não é divino. Jesus é de fato divino. O que eu gostei sobre os monges em meu documentário é que eles não denigrem Jesus, mesmo adorando Krishna como Deus. Eles mantêm Jesus em seus corações, enquanto adoram Krishna. O que poderia ser mais secular ou mais cristão?

3067 AC é quando houve a guerra do Mahabharata, diz Dr. Achar. Como ele chegou nisto?

            Existem mais que 140 referências a astronomia no Mahabharata. Dr. Achar usou simulações do céu noturno para chegar a 22 de novembro, 3067 a.C., como o dia que a guerra de Mahabharata começou.
            Inicialmente ele usou referências comuns a Udyoga e Bhisma Parvan, e então Saturno em Rohini, Marte em Jyestha com inicialmente somente dois eclipses, Lunar em Kartika e Solar em Jyestha.
            Vou lhe contar quão raro esta combinação de conjunções astronômicas é.
            O ciclo de eclipses Saros é periódico a cada 19 anos, assim como o ciclo Metonico de fases lunares. Então se eu disser que Amavasya occorreu em Jyestha, então irá ocorrer novamente em 19 anos, mas se eu disser que um eclipse solar ocorreu em Jyestha, então ocorrerá novamente em Jyestha, somente depois de 340 anos. Adicione Saturno em Rohini e levamos de 1 em 7000 anos. Este conjunto de conjunções leva todos estes fatos em consideração, bem como todas as outras informações.
            Então agora sabemos sobre a peregrinação tithis de Balarama e nakshatras, e acredite ou não, tudo isto se encaixa perfeitamente na data de 3067 a.C.. E para concluir, também se encaixa a repetição de três eclipses descritos na destruição de Dwarka, 36 anos depois.
            Isto explicaria porque muitos outros pesquisadores tentaram e falharam em encontrar a data da guerra de Mahabharata, uma vez que é baseada em um conjunto astronômico único que ocorreu apenas uma vez nos últimos 10.000 anos.

Então essencialmente, sua tese é que uma vez que a guerra do Mahabharata de fato aconteceu, como confirmado por deduções astronômicas, Krishna era também uma entidade vivente, uma vez que ele é o fulcro da Grande Guerra?

Não somente isto, mas o fato de que tradições arqueológicas, orais e viventes apontam para o mesmo. E sim, nós não podemos separar a guerra do Mahabharata de Krishna. Se uma aconteceu, então o outro também deve ser verdade.

Qual seu próximo projeto?

O próximo projeto é chamado Jesus indiano. Já está 80% completo. É muito controverso, mas precisa ser feito. Viver na Índia me convenceu de que existem muitos caminhos para Deus. Qualquer um que vive na Índia e não aceita tal conceito deveria ser entitulado intolerante, mas ao invés, o oposto está acontecendo. Existem pessoas hoje que chamam seu deus de Deus e o meu de demônio, mas isto é inaceitável, e eu verei estes conceitos intolerantes serem demolidos. Eu desejo muito ver um mundo sem fronteiras onde vivemos em respeito mútuo. Não posso dizer muito sobre o projeto, mas eu irei provar que a base das religiões é a mesma.

O documentário diz que existe uma árvore banyan que foi testemunha da batalha de Kurukshetra, onde dizem que 4 milhões de pessoas morreram em 14 dias. Onde exatamente isto existe? Esta árvore foi provado ter existido nesta data?

            De fato existe uma árvore banyan em Jyotisaar em Kurushektra que é adorada como tal. Este conceito é similar ao da árvore em Jerusalém, que é tida por ter testemunhado a chegada de Jesus. Prova de sua data é pouco provável de fornecer qualquer resposta concreta. Eu incluí isto no documentário para mostrar a vivente tradição da Índia – como adoração do Ganges não pode ter provada sua data para dar quaisquer respostas.

Existe um senhor chamado Ram Prasad Birbal que disse que encontrou muitos ossos que dizem ter pertencido à batalha de Kurukshetra. Isto foi cientificamente provado?

            Ram Prasad Birbal é um residente de Kurukshetra. Eu não fui informado de nenhuma data provada destes ossos. Mas eu fui informado que provas thermo-luminescentes de outras relíquias, bem como data por carbono em outros locais em Kurukshetra deram datas muito mais antigas que as civilizações dos vales Hindus. Além disto, Euan Mackie, um arqueólogo iminente encontrou um tablado de argila do episódio Yamalaarjuna de Krishna em Mohenjedaro, um lugar das civilizações dos vales Hindus, provando que mesmo em 2200 a.C. existia uma cultura de adoração a Krishna.

Você disse que o hinduísmo se espalhou através do sudeste da Ásia neste período. Quão grande era este império religioso?

            O império religioso Hindu estendeu através de todo o sub-continente asiático até o sudeste da Ásia, do Afeganistão até a Tailândia (onde Ramayana e Krishna ainda são mostrados através de danças), Burma, Cambodia (Angkor War, Angkor Thom, Bayon, etc), Vietnam, Laos (pequeno Kurukshetra e templos), Malaysia (que era hindu até recentemente), até Java (mais templos), Bali (onde o hinduísmo ainda é a religião) e  Indonésia, onde dizem que o neto de Bhima performou mil rituais de fogo em Yogyakarta. Afeganistão foi com certeza a casa para ambas a corrida de Yadu e Shakumi (Kandahar ou Gandhar).

Dr. Achar disse que a guerra de Kurukshetra deve não ter ocorrido em um dia de lua cheia.

            A guerra do Mahabharata não começou num Amavasya. Isto é claro. Krishna diz a Karna “Saptama chappi divasat Amavasya Bhivasyati” e diz que Karna deveria avisar Drona e Bhisma para preparar o ayudha (armas) pooja naquela data. Mas não para começar a lutar a guerra naquela data.

O documentário é bastante fresco. Fui informado que é a primeira vez que você segurou uma câmera e aprendeu a filmar. Quantos dias levou e qual foi seu orçamento?

            Eu aprendi a editar filmes usando uma variedade de softwares como Final Cut 6, pois percebi que um diretor de filmagem precisa saber fazer uma boa edição básica para decidir o que filmar, de quais ângulos e por qual duração.
            Inicialmente comprei uma câmera profissional com filmagem HD e então aprendi a filmar antes de filmar em 8 grandes cidades na Índia, EUA, Inglaterra e Cambodia. Entretanto, nada te prepara tão bem quanto filmar por conta própria. Maior parte disto foi feita com uma pequena equipe, basicamente lidando com áudio.
            Mais tarde fui financiado pelas mais recentes câmeras de filmagem Cinealta tru HD, que não estão disponíveis na Índia, e que agora eu possuo proficiência em usar. Também ensinei alguns membros da equipe a filmar.
            Então veio a missão de unir um time de profissionais para fazer edição, gráficos, vozes e todo o resto, para que então eu tivesse um time de pessoal para meus próximos documentários.
            Foi uma íngreme curva de aprendizado, uma vez que eu nunca fiz aulas de filmagem, mas tem funcionado bem, com pessoas da indústria que são veteranos complementando meu trabalho. Eu pessoalmente acho que foi tudo pela graça de Deus.
            O orçamento era 15 mil libras, ou aproximadamente RS 12 lakh. Me levou 18 meses para completar.

Seu documentário diz que a Índia não tinha uma tradição de escrever os fatos até 325 a.C., quando Alexandre o Grande chegou. Como você chegou a esta conclusão?

            Isto é o que a crença científica atual diz. Mesmo com pessoas falando sobre ter decifrado o Indus Valley script, não existe conclusão direta sobre o mesmo, então paramos na “official line”. Vamos lidar com estes aspectos num documentário futuro.

S R Rao, o arqueólogo marinho do National Institute of Occeanography, encontrou um prédio do século IX, e uma cidade inteira. Onde foi isto e quando ele encontrou?

            S R Rao encontrou a cidade afundada de Dwarka poucos anos atrás na Beyt Dwarka no início dos anos 1990.

Aparentemente, esta cidade perto de Dwarka foi construída 36 anos depois da guerra de Mahabharata. Esta é a conclusão de Rao?

            Acredita-se que pelos danos e destruição causados pelo mar, Dwaraka submergiu seis vezes e a Dwarka moderna é a sétima cidade a ter sido construída na área. Falando cientificamente, vemos que 36 anos depois da guerra, existiam as mesmas repetições de um eclipse tríade, como mostramos no documentário.

De Dwarka a Kurukshetra, são mais de 1000 km. Como você acha que Krishna viajou para ajudar os Pandavas?

            Como um cientista, eu acredito que eles viajaram em cavalos, que os possibilitariam chegar rapidamente. Se considerar 1000 km, deveria levar 7 dias se ele tivesse cavalos. Claro, se levar em conta a fé, poderia acontecer num piscar de olhos.

Qual a conexão entre os dois cometas que Sage Vyasa falou sobre, a moção retrógrada de Marte (Mangal ou Kuja) e Antares (Jyestha) com isto tudo?

            A idéia de que cometas são prenúncio do caos é bem documentada. Porém, há um conjunto de afirmações descrevendo cometas e suas posições. Somente o Dr. Achar chegou à dedução correta, que aquelas frases no Bhisma Parvan se referem a cometas, e não planetas – que é onde pesquisadores anteriores encontravam dificuldades.
            Nós sabemos que o cometa Halley foi visto naquele ano também.

Dr. Achar interpretou versos do Bhisma Parvan e Udyog Parvan para chegar em diversas conclusões. Uma delas é que quando Saturno está em Aldebaran (Rohini), traz grandes marés de azar. A última vez que isto aconteceu foi em Setembro de 2001, quando 9-set aconteceu. Quando isto acontecerá pela próxima vez?

Na verdade, Saturno em Rohini é sabido há muito tempo de ser algo ruim pelos astrólogos. Rohinim Pidyannesha Stitho Rajan Shanscharah. Este trânsito aconteceu em 1971 onde em torno de um milhão de pessoas foram mortas, e novamente em 2001 em setembro, quando aconteceu o 9-set. A próxima vez é em 2030/2031, aproximadamente.

Quando é a próxima vez que Marte vai estar em Antares?

            Marte em Jyestha deve ser levado em conjunção com outras coisas mencionadas por Karna quando ele fala a Krishna, como isto ocorrer anualmente. Em qualquer caso, aquelas pessoas foram grandes astrônomos e não somente guerreiros, então nós não sabemos qual é o limite de seu conhecimento a respeito destes eventos. Em minha humilde opinião pessoal, era talvez até melhor do que temos hoje.

Contate Dr. Pandit através manish@saraswatifilms.org


22 de agosto de 2014

Vaishnavismo Engajado: os devotos de Krishna estão preocupados em tornar o mundo um lugar melhor?

Escrito por Steven J. Rosen (Satyaraja Dāsa)


"Filosofia tem pouco ou nenhum significado, a menos que produza um bom caráter." Radhanath Swami

A forma como nós nos comportamos no mundo material é, em certo grau, um reflexo de como nós nos identificamos enquanto seres vivos. Se pensarmos em nós mesmos como corpos materiais, como a maioria das pessoas faz, então nosso foco primário será o mundo material e as diversas interações que aparentemente melhoram nossa estadia aqui. Nós nos tornamos absortos em apetites corpóreos, levando uma boa vida, criando família, e assim por diante.
Se, no entanto, nós desenvolvermos um sentido de que há algo mais na vida - que nós somos seres espirituais vivendo em um corpo material - então nosso foco naturalmente mudará para uma realidade mais interna, e para nossa verdadeira vida como almas espirituais.
Não se trata, obviamente, da exclusão das preocupações materiais, mas sim uma necessidade subjacente e uma prioridade que nutre tais questões.
Há uma arte para fazer isso - usar o mundo material de forma espiritual. Em Sânscrito, ela é chamada yukta-vairagya, e foi desenvolvida como uma ciência pelos seguidores de Sri Chaitanya (1486-1533). Sob a liderança de Rupa Goswami, Seu principal discípulo, os Chaitanya Vaishnavas de antigamente, representados pelo movimento Hare Krishna hoje, formularam uma metodologia detalhada para agir como as almas espirituais que nós somos, para estar no mundo, mas não ser do mundo.
Consequentemente, os devotos, em geral, não são comprometidos com qualquer paradigma mundano social, econômico ou político. Nosso compromisso é com Bhakti, ou serviço devocional ao Supremo, com ênfase, novamente, no lado espiritual das coisas. Isto não quer dizer que nós somos anarquistas ou antinomianos de qualquer tipo. Nós assumimos nossas responsabilidades pessoais ou civis para manter a ordem no mundo material, sejam sociais, econômicas ou políticas. Os textos em sânscrito chamam essa responsabilidade de loka-samgraha, ou "a manutenção do mundo material". Isso é efetuado de um modo individual, enquanto os devotos avaliam os respectivos méritos ou deméritos de determinado sistema mundano, e decidem se devem participar dele, influenciá-lo, e assim por diante, conforme nossa consciência e julgamento prático nos movam.
Apesar de nossa tradição Gaudiya Vaishnava, habilmente representada no mundo moderno por Srila A. C. Bhaktivedanta Prabhupada (1896 - 1977), focar no trabalho pelo bem-estar espiritual - ou seja, ajudando outros a avançarem em direção a Krishna e o mundo espiritual - e apesar de muitas citações mostrando que esse foco eclipsaria qualquer orientação à caridade mundana, este artigo tentará mostrar outro lado da tradição, que às vezes é negligenciado ou omitido.
De fato, os textos dos grandes acharyas enfatizam fortemente a importância de ajudar as pessoas espiritualmente, quase até o ponto de excluir o trabalho para o bem-estar material de seus ensinamentos. Há uma razão para isso, na mesma linha do "Dê ao homem um peixe, e alimente-o por um dia; ensine-o a pescar, e alimente-o pela vida toda" (Lao Tzu).
Isso não é para encorajar a pesca, obviamente. Mas sim, para destacar o princípio de soluções de longo termo como superiores a soluções de curto prazo.
De fato, soluções materiais são sempre de curto prazo, pois dizem respeito ao corpo perecível. Todo valor ou atividade social que foca no corpo cai no esquecimento assim que o corpo é destruído. E o corpo será destruído. É apenas uma questão de tempo. Os devotos, por outro lado, são ensinados a olhar a longo prazo, tendendo às necessidades da alma. É essa atividade social que persiste, pois a alma é eterna.
Então, os Vaishnavas tendem a ter um coração generoso, sentindo o sofrimento de outras entidades vivas e, enquanto sua preocupação primária é pelo bem-estar espiritual de todos, eles não gostam de ver ninguém sentindo dor ou perda, em qualquer sentido da palavra.
Recentemente, o Budismo se tornou popular por causa do engajamento de seus aderentes com o mundo material. Budistas, sem dúvida, procuram meditar e desenvolver sua vida contemplativa interior - essa é a verdadeira questão da tradição budista, mas eles também reconhecem a importância do aqui e agora, de ajudar as pessoas e trabalhar para fazer o mundo um lugar melhor. Isso é chamado "Budismo Engajado."
Vaishnavas também, como já mencionamos, estão preocupados com o mundo material. Assim como os Buddhistas, nós reconhecemos que o mundo material é cheio de sofrimento, e que sempre será um lugar onde nascimento, morte, velhice e doença são proeminentes. Mas os Vaishnavas "sentem o sofrimento dos outros", e assim, da mesma forma que os Buddhistas, eles trabalham duro para aliviar esse sofrimento, mesmo que eles necessariamente o façam com um componente espiritual predominante.
Por exemplo, Vaishnavas servirão comida aos famintos, mas eles vão garantir que essa comida é prasadam, oferecida a Krishna. Isso espiritualiza o ato de caridade, permitindo que o beneficiário não apenas receba a nutrição que ele ou ela necessita, mas também avance no caminho espiritual. 
Assim, o grande mestre da consciência de Krishna, Bhaktivinoda Thakur (1838-1914), escreveu incessantemente sobre a necessidade de um "Vaishnavismo Engajado", usando por exemplo a seguinte frase:

"Aqueles que pensam que devoção a Deus e gentileza com as jivas (almas) são mutuamente diferentes, e agem de acordo com tal crença, tais pessoas não serão capazes de seguir a cultura devocional. Suas ações são apenas um simulacro de devoção. Então, todos os tipos de beneficência a outros, como gentileza, amizade, perdão, caridade, respeito e assim por diante, são incluídos em Bhakti. Entre esses, de acordo com as triplas categorias dos beneficiários, a saber, alto, médio e baixo. As ações de respeito, amizade e gentileza são a própria forma do amor e a porção característica do Bhakti: caridade de medicamentos, roupas, comida, água, etc., abrigo durante adversidades, ensino de instrução acadêmica e espiritual, etc., são as atividades incluídas na cultura devocional. [1]

E novamente Bhaktivinoda escreveu:

Deve-se ser misericordioso e não causar ansiedade a qualquer entidade viva. O coração deve sempre ser preenchido de compaixão pelos outros. Exibir misericórdia a todas as entidades vivas é um dos braços do serviço devocional. [2]

O mesmo humor foi expresso por Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur (1874-1937), o ilustre filho de Bhaktivinoda e mestre espiritual de Srila Prabhupada:

[O devoto] não sente apatia ou apego à moralidade mundana. Por outro lado, a moralidade espera como uma serva para apoiar a moralidade espiritual no serviço ao Senhor do Amor Transcendental. Ao mesmo tempo, nós devemos entender que o caráter de alguém que cultiva amor espiritual nunca é desprovido de moralidade. Alguém que seja hostil à moralidade ou que saia do caminho da moralidade nunca pode ser um homem espiritual. No resplandecente cerne dos ensinamentos do ideal de Shri Chaitanya Deva - devassidão não é devoção. A evidência é abundante quando refletimos sobre o caráter de Sri Chaitanya Deva e seus seguidores. [3]

O próprio Prabhupada indica que ética e moral - em outras palavras, o cultivo de um senso de bondade no mundo material - é um precursor do Bhakti puro e pode ajudar na jornada espiritual do indivíduo:

Sim, ética é o princípio básico da purificação. A menos que alguém... Saiba o que é moral e o que é imoral... Claro, neste mundo material tudo é imoral, mas ainda assim nós temos de distinguir o que é bom e mau. Isso é chamado princípio regulativo. Simplesmente por seguir o princípio regulativo, se ele não atinge o objetivo último da vida espiritual, então, isso também não é o desejado. O real propósito é chegar à plataforma espiritual e se tornar livre da influência dessas leis da natureza material.
Então, paixão é a força de ligação na natureza material. Assim como no presídio, os prisioneiros são mantidos às vezes acorrentados por algemas de ferro e outros métodos, a natureza material tem as correntes ou algemas da vida sexual, paixão, rajas e tamah. Kama esa krodha esa rajo-guna-samudbhavah. Rajah-gunah significa o modo da paixão. Assim, o modo da paixão significa kama, desejos luxuriosos, e krodha. Quando os desejos luxuriosos não são satisfeitos, a pessoa fica irada. Mas essas coisas são os meios de escravidão nesse mundo material.
Em outro texto é dito que tada rajas-tamo-bhavah kama-lobhadayas ca ye. Quando alguém está afligido pelos modos da natureza material, ou seja, rajo-guna e tamo-guna, então se torna ganancioso e luxurioso. Então, a ética requer sair das garras da ganância e dos desejos luxuriosos. Então se chega à plataforma da bondade, que irá lhe ajudar a atingir a plataforma da vida espiritual. [4]

Deve ser dito que algumas das citações acima tratam das relações pessoais e ética como em oposição ao trabalho de beneficência social. Mas a inter-relação não deve ser negligenciada, e a essência é a mesma. Nós estamos falando sobre um coração compassivo, um indivíduo espiritualmente evoluído que não pode suportar o sofrimento dos outros. Em outras palavras, um devoto quer ver as pessoas felizes, materialmente e também espiritualmente.
Acadêmicos de fora do movimento, também, reconhecem que os devotos são naturalmente pessoas boas, buscando ajudar o mundo e todos que se encontram nele. Estas são as palavras de Joseph T. O'Connell, Professor Emérito de Estudos de Bengalí na Universidade de Toronto:

Entre as virtudes mais destacadas na formação do caráter devocional ideal estão a humildade, prestatividade, não-violência, limitação da indulgência sensual, trazer uma atitude acomodativa a situações de potencial conflito, relatividade papéis sociais mundanos como construções de maya, "ilusão", o que aqui não quer dizer "não-existência", como geralmente ocorre no uso indiano, mas sim engano, sedução, ou inautenticidade. De todas as virtudes, humildade, não-violência e controle dos apetites sensuais são fundamentais para a formação da moralidade pessoal de acordo com a ética Chaitanya Vaishnava.
Outras virtudes podem ser vistas como reforçando essas. Por exemplo, os relatos de conversões Chaitanya Vaishnavas geralmente mostram a transformação de um pecador irremediável que é arrogante, violento, viciado em sexo, carne e álcool, em um devoto que se afasta de tudo isso. A reputação tradicional de muitos Vaishnavas pela abstenção de álcool e carne atesta a efetividade geral dessas proibições particulares e mão necessita ser elaborada aqui. A importância da regulação sexual típica dos Chaitanya Vaishnavas ortodoxos, celibatários e casados [é outra prova].

Além disso, para os devotos, há uma clara diferenciação entre áreas de preocupação explicitamente espirituais e aquelas que são mais profanas. Os poucos avais explícitos de comportamento secular encontrados em textos Vaishnavas são, geralmente, recomendando, por exemplo, que os reis governem de forma justa e sensível; que os ricos ajudem os pobres e piedosos; e que as pessoas comuns paguem seus impostos e desenvolvam relações pacíficas com os outros. Estes mesmos textos promovem obrigatoriamente apenas a propagação de Krishna-Bhakti, pois todas as considerações mundanas, segundo eles dizem, são servidas por esse único princípio fundamental.
As escrituras vaishnavas oferecem várias analogias para tornar esse ponto abundantemente claro. Por exemplo, se explica que, por molhar a raiz de uma árvore, automaticamente se distribui água para suas folhas e ramos. A mensagem deveria ser clara: por agir em Consciência de Krishna, pode-se prestar o maior serviço a todos - ou seja, a si mesmo, à família, à sociedade, ao país, à humanidade, e assim por diante, pois todos são como ramos, partindo da raiz, o Senhor Sri Krishna. Assim, se Krishna está satisfeito com as ações de alguém, então todo mundo estará satisfeito também. É por isso que, para um Vaishnava, Krishna-Bhakti é central, e a moral e ética mundanas são consideradas secundárias.
Preocupações secundárias, no entanto, são também preocupações, e Vaishnavas maduros são escrupulosamente cientes disso. Por essa razão, ISKCON iniciou projetos que podem parecer classificáveis como "trabalho de beneficência mundano", mas um olhar atento sob a superfície revela esse trabalho como muito mais que isso.
Por exemplo, nós já mencionamos a distribuição de prasadam. Mas nós não mencionamos a extensão e amplitude dessa iniciativa em particular. Uma significativa parte da distribuição de prasadam é devida ao programa "Food for Life", um empreendimento que alimenta e educa literalmente milhões de pessoas necessitadas ao redor do mundo, principalmente em países de Terceiro Mundo. O programa Hare Krishna Food for Life é a maior organização vegetariana, sem fins lucrativos, de ajuda alimentar do mundo, com projetos em mais de 60 países. Os voluntários servem mais de 1.500.000 refeições gratuitas diariamente em uma variedade de formas, incluindo vans servindo comida aos moradores de rua mas maiores cidades do mundo; almoço para mais de 700.000 crianças pobres na Índia; e também em resposta a grandes desastres naturais, como no maremoto de 2004 do Oceano Índico.
Isso é tudo comida sagrada ("transcendentalizada" com mantras), oferecendo benefício espiritual a todos que participam.
Ou consideremos a Gopal's Garden School em Mumbai. Em 2001, a escola foi iniciada em um apartamento alugado com apenas alguns alunos de berçário. Hoje, os devotos têm seu próprio prédio. Há 28 professores e 170 crianças freqüentando a Gopal's Garden School, que oferece aulas desde o berçário até o diploma de ensino médio. Os estudantes recebem ambas, a educação acadêmica e espiritual, toda centrada na devoção a Krishna.
O Hospital Bhaktivedanta é outro projeto Vaishnava que permite que os devotos colaborem com a redução das misérias do mundo material enquanto promovem Krishna-Bhakti. O hospital tem mais de trezentos médicos residentes, metade deles devotos iniciados na ISKCON. A cura para todos é feita em Seu nome. 
Tais projetos mostram que preocupações primárias e secundárias podem caminhar lado a lado. Pode-se educar as pessoas espiritualmente enquanto se ajuda-as materialmente, ou compartilhar Consciência de Krishna praticando gentileza. A tradição Vaishnava oferece ao mundo várias "tecnologias espirituais" pelas quais se pode fazer exatamente isso: ajudar o mundo e ajudar os outros a se moverem pelo mundo, viver uma vida feliz e pacífica e voltar para casa, voltar ao Supremo.

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Notas finais

1. Tattva Viveka-Tattva Sutra-Amnaya Sutra: A Comprehensive Exposition of the Spiritual Reality by Bhaktivinoda Thakur (Madras: Sree Gaudiya Math, no date), English translation by Narasimha Brahmacari, Tattva Sutra portion, sutra 35, pp. 185-186.
2. Veja Bhaktivinoda Thakur, Bhaktyaloka.
3. De uma conversa entre Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur e Prof. Albert E. Suthers, ocorrida em janeiro de 1929 em Krishnanagar.
4. Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Espiritualismo Dialético: Uma Visão  Védica da Filosofia Ocidental (Prabhupada Books, 1985), conversa sobre Sócrates.
5. Joseph T. O’Connell, “Chaitanya Vaishnava Devotion (bhakti) and Ethics as Socially Integrative in Sultanate Bengal,” in Bangladesh e-Journal of Sociology, Vol, 8, No. 1 (January 2011), pp. 51-63. Available at www.bangladeshsociology.org/BEJS%208.1%20Final.pdf.
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Bio:

Steven J. Rosen (Satyaraja Dasa) é um discípulo de Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada e autor de cerca de 30 livros nas áreas de filosofia, religião, espiritualidade e música. Ele é editor associado da revista da ISKCON "De Volta ao Supremo, assim como o editor fundador do Jornal de Estudos Vaishnavas. 

30 de junho de 2014

O Guru pode cometer erros?

Escrito por Swami B.G. Narasingha
01 de Junho de 2014




Nós devemos sempre manter nosso Guru na mais elevada consideração. O discípulo deve ver o Guru como o representante de Krsna. O Guru nunca deve ser considerado um homem ordinário, jiva-tattva.

acaryam mam vijaniyan navamanyeta karhicit na 
martya-buddhyasuyeta sarva-deva-mayo guruh

"Deve-se saber que o acharya é como Eu mesmo, e nunca se deve desrespeitá-lo de forma alguma. Não se deve invejá-lo, pensando que ele é um homem ordinário, pois ele é o representante de todos os semideuses.” (Bhag.11.17.27)

Já que o Guru está representando Krsna em todo momento, ele não é mais visto pelo discípulo como uma jiva comum. Ele é compreendido aos olhos do discípulo como guru-tattva. O que quer que o Guru faça será visto pelo discípulo fiel como maravilhoso, puro, perfeito, e sempre uma representação de Krisna. Assim, aos olhos do discípulo, o Guru nunca comete um erro.
Os não-discípulos, no entanto, podem encontrar falhas em nosso Guru. Eles podem considerá-lo como um homem comum, e isso é intolerável para um discípulo genuíno. Se, por acaso, o Guru soletra ou pronuncia uma palavra incorretamente, o entusiástico discípulo neófito sentirá que seu Guru está certo e que, se necessário, o dicionário deveria ser mudado. Mas o não-discípulo verá isso como um erro. Um discípulo mais antigo considerará que se os não-discípulos virem um assim chamado erro cometido por seu Guru, eles talvez o considerarão como um homem ordinário, e então perderão a chance de tomar a consciência de Krsna. Um discípulo mais antigo considerará a necessidade de corrigir o assim chamado erro que seu Guru cometeu, pelo benefício dos não-discípulos.
Mas o não-discípulo verá isso como um erro. Um discípulo mais antigo considerará que se os não-discípulos virem o assim chamado erro cometido por seu Guru, eles talvez o considerarão como um homem ordinário, e perderão a chance de tomar a consciência de Krsna. Ele então considerará a necessidade de corrigir o tal erro, para o benefício dos não-discípulos.

Enquanto estiver corrigindo o assim chamado erro de seu Guru, um discípulo sincero pensará, “Oh, meu Guru é tão gentil. Ele está mostrando algum defeito apenas para me dar a chance de servi-lo.” Nosso Guru Maharaja, Srila A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada, costumava dizer, ; “Vocês estão me ajudando a espalhar este movimento de consciência de Krsna por todo o mundo.” Mas nós estávamos pensando que ele era tão gentil que nos permitia algum serviço em sua missão. Na verdade, Srila Prabhupada não necessitava nossa ajuda, e o que quer que nós estejamos fazendo no caminho correto é simplesmente por sua graça. Srila Prabhupada poderia ter espalhado este movimento sozinho. E de fato ele fez isso.
Similarmente, Srila Prabhupada costumava dizer que, “O Senhor Chaitanya Mahaprabhu poderia ter espalhado a consciência de Krsna por todo o mundo, não apenas na Índia. Mas Ele é tão gentil que nos deu algum serviço em Seu movimento de sankirtana.” Este é o humor de todos os grandes acharyas e mestres espirituais em nossa sucessão discipular.
Há um perigo para o discípulo se ele considera que os assim chamados erros de seu Guru se originam de seu condicionamento aos três modos da natureza material. Assim, nós devemos ser muito cautelosos em como nos associamos com o guru, e em que consciência nós observamos suas atividades. Até mesmo um discípulo antigo experienciará grande dificuldade se ele orgulhosamente pensa que seu guru é dependente de seus serviços. Então, Krsna, disse, acaryam mam vijaniyan – “Conheça o Acharya como Meu próprio ser.” Nunca pode haver um defeito material em Krsna. Ele é puramente transcendental, acyuta, acima dos sentidos e das leis da natureza material.
O discípulo deve sempre lembrar deste sloka e manter tal consideração por seu Guru. Não há diferença entre o seu Guru e meu Guru, ainda que não necessariamente nós vemos o Guru dos outros da mesma forma que vemos nosso Guru. No encontro privado de nossos irmãos e irmãs espirituais, nós podemos expressar tal visão exclusiva de que nosso Guru é o melhor de milhões de jagat-gurus. E deve ser assim. Se for de outro modo, por que nós viemos ao refúgio de nosso Guru?




Sobre o autor:


Sripad Narasingha Maharaja entrou em contato pela primeira vez com seu mestre spiritual, Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, no verão de 1967, no Golden Gate Park em São Francisco, Califórnia, mas somente em 1970 ele tomou iniciação Hari-nama de Srila Prabhupada em Los Angeles, tornando-se então seu discípulo devidamente iniciado.